Tirar mil, a nota máxima na redação do Enem, pode parecer coisa de gênio e meta distante de quem estuda para o exame. Mas, na verdade, por trás do feito, estão apenas muito treino, estratégia e conhecimento de como funciona a prova.
Gabriel Merli, 19, hoje estudante de medicina na USP (Universidade de São Paulo), conta que fazia uma redação por semana enquanto fazia o pré-vestibular no Poliedro.
Ele afirma que os estudos depois do ensino médio o ajudaram a se aprimorar e a entender as particularidades de cada exame.
“O Enem tem esse padrão bem quadrado, tem pouca liberdade para fugir dele. Não é tão bom porque isso não treina sua individualidade. Mas me deu confiança. Só de abrir o caderno e ver aquele layout de prova, já tranquiliza”, diz.
Ele conta que sua estratégia era deixar a redação por último.
Eu lia a proposta antes de ir para as questões, que podiam me dar ideias para o texto, e deixava a ideia marinando na cabeça durante a prova. Gabriel Merli, em dica para a redação
Na hora de escrever, ele primeiro pensou numa estrutura em tópicos, depois fez um rascunho, cheio de rasuras e alterações, e só depois passou tudo a limpo.
Ficar tenso sobre o possível tema da redação pode deixar o candidato ansioso. “No Enem, o tema realmente não importa, o que importa é a estrutura do texto”, diz Merli.
Thais Saeger, 30, que estuda para ingressar em medicina, tirou 1.000 na redação do Enem, em 2018, e também não recomenda dar bola para o tema.
“Na véspera da prova, não queira nem ter ideia de tema, isso gera muita ansiedade. Já não basta o estresse da pandemia. Quem treinar vai estar preparado independentemente do tema”, afirma.
Ela conta que, quando começou a estudar para o exame, suas notas na redação eram bem baixas, mas foram melhorando com as correções do cursinho que fazia à época, o pH, em Niterói (RJ). “Ler redações nota 1.000 de anos anteriores e entender a estrutura da prova me ajudaram muito”, diz.
Numa estratégia diferente da de Merli, Saeger prefere fazer logo a redação. Mas sem se apressar. “Lembro que professores sugeriam uma hora, uma hora e 20 minutos para a redação. Gastei uma hora e 40 e valeu a pena”, lembra.
O treino de Isabel Petrenko, 20, para o Enem consistiu em escrever uma redação por semana e corrigir o texto da semana anterior, com base nos apontamentos dos professores.
“Com isso fui encontrando um modelo que funcionava para mim e que, ao mesmo tempo, fosse compatível com as competências esperadas pela prova”, diz.
O Enem é mais uma prova de resistência. Tem mais a ver com técnica e preparo do que com escrever bem.
Isabel Petrenko, estudante.
Ela já era estudante de direito na Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), mas tinha dúvidas se continuaria no curso, por isso entrou para o pré-vestibular e prestou o exame nacional. No fim, resolveu continuar.
Depois de receber o resultado da redação, Isabel montou com outros candidatos que tiraram nota máxima uma cartilha contendo os textos de cada um.
“O intuito não é disseminar um modelo engessado, mas divulgar a ideia de que há formas totalmente diferentes de chegar à nota mil”, diz. A cartilha.