O primeiro dia de prova do Enem acontece no próximo domingo (17). Ao todo, o exame terá 45 questões de cada uma das quatro áreas do conhecimento (humanas, exatas, ciências da natureza e linguagens), além de uma redação.
Em geral focada na leitura e na interpretação de texto, a prova foi elaborada em meados de 2020, quando a pandemia da covid-19 se aproximava dos 100 mil mortos.
Em meio a pressões pelo adiamento do teste e da morte do diretor responsável pelo exame devido ao vírus, os 5,8 milhões de inscritos podem se deparar com questões sobre a pandemia.
A primeira fase da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), por exemplo, trouxe questões sobre o novo vírus em todas as áreas do conhecimento, ora como contexto, ora como foco. A USP (Universidade de São Paulo), por outro lado, falou menos da pandemia.
Como, no entanto, as questões do Enem passam por etapas de teste e, atendidos os parâmetros esperados pelo Inep, entram num banco de perguntas, é possível que o foco principal não seja a doença, que foi declarada como pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde) apenas em março de 2020.
Ainda assim, temáticas relacionadas a epidemias, vírus, saúde e seus desdobramentos sociais podem ser exigidas, ficando mais fácil para o candidato com repertório relacionado à atual pandemia.
Veja como o novo coronavírus pode cair nas provas do Enem, segundo professores do Curso Anglo, do Sistema de Ensino pH e da Organização Educacional Farias Brito.
Ciências humanas
As epidemias e pandemias ao longo da história podem trazer a covid como mero contexto ou como foco da questão.
A primeira onda da peste negra na Europa, que devastou o continente no século 14, e os surtos de gripe espanhola no começo do século 20 são exemplos mais evidentes, mas outras epidemias –e seus desdobramentos históricos– podem ser alvo da prova.
A Revolta da Vacina, ocorrida no Rio de Janeiro também no início do século 20, pode servir como ponte e comparação para a discussão de movimentos antivacina atuais.
A prova de humanas também pode trazer questões sobre o posicionamento de organismos mundiais, como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OMS quanto aos protocolos sanitários e a comunicação global da pandemia.
Além disso, diante dos impactos econômicos dessa doença, questões que comparam a ação dos países quanto às medidas de contenção do vírus e que falam sobre as cadeias produtivas interconectadas e o comércio mundial podem cair no exame.
Matemática
A prova de matemática pode trazer gráficos com a evolução da contaminação pelo mundo. “Ali são funções exponenciais, análise de gráfico dessa função e a diferença entre as funções exponencial e linear. Podemos falar também de progressões geométricas e aritméticas”, diz Ricardo Suzuki, do pH.
Um assunto que aparece frequentemente nas provas do Enem é a porcentagem, que esteve nas manchetes ao longo de todo o ano em relação à pandemia, com infectados e dados de eficácia de vacinas.
Também pode ser trabalhada a probabilidade e análise combinatória na identificação de chances de contágio por covid-19 em grupos de indivíduos, por exemplo.
Ciências da natureza
A prova de ciências da natureza, que contém questões específicas e interdisciplinares de biologia, química e física, talvez seja a mais diretamente relacionável à pandemia, com várias possibilidades de questões.
“Uma delas pode ser sobre os mecanismos básicos das estruturas virais, não necessariamente da covid”, diz Heloisa Simões, do pH.
Também podem surgir questões sobre os mecanismos de defesa dos organismos, como a produção de anticorpos, respostas celulares via linfócitos e o papel das vacinas.
“Como elas induzem imunidade, a base molecular delas, especialmente das mais tradicionais feitas com vírus atenuados ou inativados”, diz Simões.
A forma como os vírus se multiplicam é outro assunto atual. A alta frequência de multiplicação do vírus favorece o surgimento de novas mutações, e o candidato pode ter que explicar como e por que isso ocorre, além de discutir as possíveis consequências para a saúde pública.
Os cuidados sanitários para evitar a propagação do vírus e a contaminação também podem ser pedidos.
Na primeira fase da Unicamp, por exemplo, algumas questões falaram sobre o álcool, substância que tradicionalmente aparece em provas de química e que, com a pandemia, esteve em evidência.
Na prova de física, os professores ouvidos indicam que assuntos como escalas termométricas (Celsius, Fahrenheit e Kelvin) podem aparecer relacionadas ao uso de termômetros.
Além disso, a covid pode contextualizar questões sobre o estudo dos gases relacionados a respiradores mecânicos e sobre a óptica geométrica relacionada a microscópios que analisam o vírus.
Linguagens
“A compreensão dos textos nunca depende exclusivamente do que está na superfície da página. O leitor precisa mobilizar conhecimentos e repertório cultural para construir o significado a partir do texto”, diz Henrique Braga, professor do Anglo.
Bastante focada nas habilidades de leitura e interpretação de texto, a prova de linguagens do Enem também gosta de trazer questões relativas à publicidade e comunicação institucionais, que também podem conter mensagens relativas a programas governamentais de saúde.
Redação
Professores avaliam que dificilmente o tema da redação do Enem será diretamente relacionado com o novo coronavírus.
O assunto, porém, pode aparecer como parte da contextualização de temas que, ao longo do ano, foram afetados pela pandemia. Além disso, o aluno que souber relacionar efeitos e desdobramentos da pandemia pode demonstrar repertório que pode aumentar sua nota.
A saúde mental, por exemplo, é um tema que pode aparecer sem qualquer texto de apoio relativo à covid, mas diante das medidas de isolamento, da crise econômica e das mortes durante a emergência sanitária, relaciona-se à pandemia.
A educação e seus problemas, também evidenciados pela pandemia, como o acesso desigual à educação, a evasão escolar e a alfabetização, são assuntos aos quais as contextualizações relativas à pandemia podem se juntar, mesmo que elas não sejam o foco principal.