A estudante Elisa de Oliveira Flemer, de 17 anos, que foi proibida pela Justiça de cursar engenharia civil na Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) por fazer homeschooling – estudar em casa longe do acompanhamento de uma escola -, ganhou uma bolsa para fazer um curso de curta duração no Vale do Silício e um convite para estágio, ambos nos Estados Unidos.
O convite foi feito por uma empresa, que se comprometeu a custear todos os gastos da estudante durante o período do curso, que tem duração de uma semana. Além disso, a empresa também ofereceu um curso online para Business Administration (administração de empresas) em uma faculdade dos Estados Unidos e convidou a estudante para fazer parte do seu grupo de estagiários.
“Fiquei muito feliz em ganhar essa bolsa e poder fazer essa imersão no Vale do Silício. Com toda certeza assim que for possível viajar para lá eu irei. Já com relação ao convite de estágio ainda não aceitei porque a minha prioridade é estudar e estou aguardando alguns resultados de universidade norte-americanas”, conta a estudante.
Devido à pandemia e o fechamento das fronteiras de diversos países Elisa ainda não sabe quando poderá fazer o curso no Vale do Silício, que fica no estado da Califórnia, nos EUA.
A estudante ainda concorre a bolsas de estudos em universidades no país norte-americano e aguarda os resultados das inscrições. Em quatro delas, a jovem está na lista de espera.
“Esse é o meu sonho e estou torcendo muito para que dê certo”, diz.
Paralelo a isso, a família de Elisa entrou com um novo pedido na Justiça para tentar garantir a vaga da estudante na USP e para que ela possa fazer o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) esse ano.
O exame aplicado pelo governo federal oferece o certificado do ensino fundamental ou do ensino médio para jovens e adultos que não concluíram os estudos. Para fazer a prova, que será aplicada em agosto, é necessário ter mais de 18 anos. Elisa completa a maioridade em setembro.
Homeschooling e a aprovação na USP
Elisa, que mora em Sorocaba, interior de São Paulo, adotou o modelo de estudar em casa em 2018 e estuda cerca de seis horas por dia seguindo um método próprio. A estudante relata que optou pelo homeschooling quando estava no primeiro ano do ensino médio ao perceber que tinha facilidade em estudar sozinha e detalha que nessa época aprendia a matéria apenas lendo o conteúdo da apostila minutos antes da aula.
Desde que começou a estudar em casa, Elisa tem prestado vestibulares para testar seus conhecimentos. A estudante já foi aprovada duas vezes em uma faculdade particular, onde devido ao seu desempenho conseguiu bolsa integral, tirou 980 na redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) conquistou o 5º lugar no curso de engenharia civil da Escola Politécnica da USP, em 2020.
Porém, por não ter concluído o ensino médio em uma escola tradicional e não ter o diploma, ela não conseguiu ingressar na USP. A família da estudante chegou a recorrer à justiça, no fim do ano passado, mas o pedido foi negado.
A reportagem do UOL questionou a USP sobre a aceitação da matrícula da estudante. A universidade explicou em nota que segue as diretrizes regulamentadas no país.
“Para matrícula nos cursos de graduação da USP, é necessária a apresentação do certificado de conclusão do ensino médio, já que ainda não existe regulamentação sobre o homeschooling no Brasil”.