Por Natashe Rossato
Em Cangalha do Vento acompanhamos a história de uma família por suas várias gerações. Vida e morte se entrelaçam com o passar dos dias, sempre acompanhadas de um sopro de esperança e renovação de personagens profundamente ligados à terra. Aliás, esse vínculo com a terra é o traço em comum desses familiares, que amam a cidade de Junco, no Sertão baiano.
Em cada capítulo um membro da família está no foco narrativo e, então, acompanhamos doces memórias da vida, especialmente infância e juventude, em uma cidadezinha pacata.
Dentre as várias gerações, percebe-se um liame lindo e indestrutível com o lugar de nascimento, uma sensação inarredável de pertencimento àquela terra, aquele chão. Muitos familiares deixam o Sertão: alguns se exilam no Sudeste, outros tentam a vida no Norte… mas acabam sempre retornando para o velho Junco.
Dentro dessa linha, destaquei um trecho muito bonito que fala dessa nossa dialética com a terra: “É engraçada essa coisa das pessoas se julgarem donas da terra. Nós viemos da terra, entretanto não a dominamos. A terra parece ter vida própria. Não só parece, mas tem. Tem vida e tem fome, muita fome. Principalmente daqueles que se julgam seus donos. A terra nos pare, nos alimenta, nos cria e nos engole de volta. Nós não somos os donos da terra. Antes, sim, a terra é que é nossa dona.”
O livro é aconchegante, gostoso de ler e os causos são muito bem contados, acompanhados de pequenas ilustrações que eu adorei. Agradeço ao autor pela oportunidade de ler o Cangalha, uma produção independente nacional que merece nossa leitura.
Natashe Rossato
A Pilha de Livros
Curitiba – PR
@apilhadelivros